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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A história é a seguinte: o modernismo está morto, e o design precisa de um novo "ismo" para defini-lo. No que quer que esse "ismo" se transforme, ele precisa ser: ética e ambientalmente responsável, social e geograficamente inclusivo; colaborativo; parte da rede social; sensível à  natureza, experiente o suficiente para tirar o máximo: a) de avanços da tecnologia, e b) tanto globalmente quanto localmente.

Parece sensato? Claro, soa até mesmo familiar. Já existiram várias tentativas de categorizar esta nova abordagem do design como "novo design", "design sustentável” ou como parte dos movimentos culturais "polimodernismo", "supermodernismo", "super hibridismo”, e assim por diante. Um livro que será publicado no próximo mês propõe um novo "ismo" – trata-se do "sustentantismo".

Escrito pelo teórico cultural Michiel Schwarz e pelo designer Joost Elffers, "O Sustentantismo é o Novo Modernismo" [n.t.: em tradução livre, ainda sem tradução no Brasil] se apresenta como um "manifesto cultural” que propõe "um novo vocabulário e uma linguagem simbólica para uma nova era". O resultado está mais para um exercício de branding do que para um livro convencional. Ele aponta os elementos que compõem os princípios do Sustentantismo - responsabilidade, inclusão, colaboração, além de todas as outras virtudes citadas acima - e os apresenta como breves declarações e slogans, ilustrados por tipos diferentes de fontes tipográficas e símbolos gráficos especialmente criados.

As estrelas do show são os símbolos. Um nó tridimensional inspirado por um signo antigo das três forças da natureza - terra, água e ar - é uma escolha inteligente como o übersímbolo de Sustentantismo. Como todos os logotipos de sucesso, seu significado se reflete em sua aparência - três laços fechados, contínuos, cíclicos e interdependentes. Este tema é reinterpretado ao longo do livro para representar diferentes aspectos do Sustentantismo, incluindo aí um trio de luas crescentes para o "Islã Sustentantista", um triângulo de círculos vermelhos para o "Hinduísmo Sustentantista" e três setas entrelaçadas para os "compostáveis".

Outros símbolos quantificam as pegadas de carbono do que compramos e o “foodprint” de combustíveis fósseis dos produtos alimentares. Os autores também descrevem o dilema da “economia versus ecologia” de um livro como aquele, em um diagrama que mostra como o envio da primeira edição, que partiu de impressoras chinesas em direção às livrarias dos EUA pelo mar, junto com milhares de outros livros, produziu cerca de 1,5kg de CO2. Eles, então, explicam que se o livro tivesse sido impresso nos Estados Unidos, a pegada de carbono teria sido menor e o preço de varejo seria 50% mais alto.

São todas propostas construtivas que podem ajudar os consumidores a calcular o impacto ambiental de suas compras, e teria sido bom ler mais a respeito. Não que as declarações em “Sustentantismo” sejam imprecisas ou que os autores prometam mais do que nos oferecem. É que os designers já estão bastante conscientes dos princípios descritos no livro, e a maioria deles já foi analisada com mais profundidade em outros lugares.

Por exemplo, a questão colaborativa do livro está sendo explorada em "Hyperlinks", uma exposição que acontece até 20 de julho no Instituto de Arte de Chicago, e a vertente ambiental está na exibição "Fossil Post", que abre no dia 27 de janeiro Museu de Design Holon, em Israel.

A questão crítica, para qualquer designer comprometido com os princípios expostos em “Sustentantismo” é como colocá-los em prática, questão que sempre ameaçou ser problemática, mas que vem provando ser muito mais do que o esperado.

Esses problemas são particularmente graves quando tratam das questões ambientais. O progresso é dificultado pela confusão geral sobre questões fundamentais, como o que torna - ou não - um projeto, a extração de matérias-primas, sua manufatura e seu posicionamento no mercado algo ambientalmente sensível, e como devemos avaliar estes passos.

Um dos argumentos é que não há consenso sobre estes assuntos entre cientistas e ambientalistas. Outro motivo é que, até agora, a maioria do que foi desenvolvido no design foi desencadeada pelo avanço na Física, que tem uma longa tradição de prova e medição concretas, enquanto muito do trabalho no design ecologicamente responsável está enraizado na ciência menos ponderável da biologia. Esta incerteza torna difícil para os designers agir com confiança, particularmente por saber que tudo o que é atualmente aceito como sendo a "melhor prática” pode mudar em breve.

Pegue um dos mais influentes livros recentes sobre concepção e ambientalismo, "Cradle to Cradle", de Michael Braungart & William McDonough, citado com aprovação em "Sustentantismo". Ao determinar padrões para o uso responsável de recursos, produção e reciclagem, ele deu aos designers e fabricantes um manual para seguir, e muitos o têm utilizado de forma eficaz. No entanto, existem controvérsias sobre tudo, desde o rigor científico de "Cradle to Cradle" até a forma como ele foi comercializado.

Há também algumas características da cultura de projeto que podem causar dificuldades no ambientalismo e em novos campos. O design é inerentemente otimista, e esse é um dos seus pontos fortes. Se os designers enxergam oportunidades para resolver problemas, explorar novos territórios ou desenvolver novas formas de trabalho, eles tendem a agarrá-las. Este otimismo vem abastecendo todo avanço no design desde que a palavra foi inventada. Nos últimos anos, ele tem impulsionado designers a explorar novas áreas, nas quais vêm lutando contra problemas sociais e crises humanitárias, ajudando a revitalizar economias locais e experimentando complexas e novas tecnologias.

Mas os designers, às vezes, podem ser otimistas demais e ignorar os perigos de avançar em um novo território. O recente barulho sobre se os projetos humanitários são o novo tipo de imperialismo foi provocado pela demonstração de boas intenções de criadores caminhando sem nenhuma malícia em direção às armadilhas políticas de desenvolvimento econômico.

Pode-se argumentar que a ingenuidade é um preço pequeno a pagar pela coragem nas inovações, mas não quando as consequências do fracasso são graves, ou até mesmo desastrosas - sobretudo no design social e humanitário, que tende a lidar com pessoas vulneráveis e que vivem em situações extremas, assim como com o desenvolvimento de sistemas de software de alta complexidade.

Tim Brown, presidente da IDEO, grupo de design dos EUA, provocou um acalorado debate por causa de um post recente sobre a necessidade de desenvolver métodos confiáveis para avaliar a eficácia de projetos de design nessas áreas, -- onde os resultados são muitas vezes intangíveis – ao invés de tratar de coisas tangíveis, como produtos, mais fáceis de avaliar.

Designers precisam de propostas práticas como esta, assim como de dados, definições, casos de sucesso e advertências de casos que falharam, se quiserem ter a noção exata do potencial do Sustentantismo, ou qualquer outra coisa que venha a ser chamada de o próximo "ismo".
Tradutor:
Erika Brandão
Alice Rawsthorn é colunista de arquitetura e design do "The International Herald Tribune" e foi diretora do Museu de Design de Londres. Seus artigos tratam de arranha-céus a alta costura

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