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terça-feira, 20 de março de 2012

Morador de Palafita










Pelas ruas da cidade, tentou observar o céu, mas só viu prédios que pareciam engolí-lo. Nasceu na cidade litorânea de São Vicente e, desde então, era lá onde vivia. Querendo ou não. Conhecia muito sobre mangue, já que morava em cima de um. Cinco irmãos. Ele o mais velho, tentava ajudar a mãe com os gastos do mês. Começou a trabalhar como autônomo na construção de uma fábrica de cimento. Era bom, era perto de casa. E ainda, descolava uma grana no fim do mês. Podia até sair com os amigos aos sábados. Que nem faziam os jogadores de futebol de Santos. Preferia morar lá. Cidade bonita, limpa, quanta gente bonita!

Exausto, chegava em casa, pedia a bênção à mãe, beijava os irmãos e se lamentava pelo pai não estar em casa. O pai estava morando em Cubatão para trabalhar na obra de uma outra empresa, mas, aos finais de semana, visitava a família e trazia dinheiro. Cansado, súor na testa, raiva no coração. Como aquele lugar era fedido! O esgoto ali, a céu aberto. Exposto, posto perto de casa. Estranho, por quê no centro não era assim?
O esgoto. Nojo. De onde vem? Das nossas casas. Só delas? Como acabar com isso? Quem deveria se responsabilizar por isso? Afinal, mesmo exausto, cansado, acabado, ainda tinha telencéfalo desenvolvido e polegar opositor, como todos outros. Como os moradores do centro, como os moradores de Santos. Como o pai, a mãe, o José, o João, a Maria, o irmão mais novo e o vizinho. 
Não dormiu bem aquela noite, sentiu inveja, raiva, quis ser o homem mais rico do mundo! O sono veio. O outro dia também. Mais um dia de trabalho pesado e deixou com que suas indagações fossem embora junto com o esgoto. Afinal, é preciso agradecer a Deus, poderia não ter nada. Afinal, seu time vai muito bem nos campeonatos. Afinal, aos finais de semana, sai com os amigos e azara meninas lindas. Afinal, ele é morador de palafita.
Danielle Almeida de Carvalho/ Bartira

5 comentários:

  1. Achei o texto ótimo, porém acho q alguém q não veio a aula terá dificuldade em entender TODA a mensagem. Além das perguntas que entendemos ser necessárias na aula, aprendemos q todo plano de educação ambiental requer um estudo de campo aprofundado,e tomar conhecimento da condição das pessoas q vivem em determinado lugar, para assim planejar a ação educacional.

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  2. Sou suspeito para falar, mas adorei o resumo em forma de conto.

    Creio que contemplou bem tudo o que foi discutido na aula, em especial na segunda parte, quando houveram as discussões dos temas de cada grupo. Interessante que o texto expõe bem o que falamos em aula e as informações que nos chegam sobre as comunidades mais carentes, à margem da sociedade (neste caso, quase enxotadas para dentro d'água). Mas existiram muitas dúvidas e divergências entre nós . Talvez depois do desenvolvimento da atividade proposta, uma segunda versão poderia ser escrita aplicando as respostas de todos aqueles "Serás?" que tanto nos sondaram.

    O texto também possui perguntas, do próprio morador, da cabeça da escritora, do povo, de cada aluno que estava na aula. Quem poderá respondê-las? Se nem nós conseguimos. E olha que somos a elite intelectual desse país, não somos? Somos?

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  3. Você que escreveu Bart? Fez jus ao ao epíteto intelectual.

    Esse tipo de texto me faz pensar em algo que penso raramente, que talvez a ignorância seja uma virtude, e as pessoas talvez sejam mais felizes assim do que se tivessem consciência de tudo que fazem.

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    Respostas
    1. Essa virtude seria muito egoísmo, de alguém que conhece os problemas mas pelo fato de estarem financeiramente e socialmente estáveis se negam a sair do conforto, indagar, conscientizar e buscar mudanças.

      Talvez fossem mais felizes assim, mas seria uma felicidade roubada, de alguém que estaria sofrendo por essas ações. Ou também temporária, pois logo menos consequências estariam por vir.

      O problema é que muitas pessoas estão presas a tal ignorância. Mas é pra isso que a educação ambiental esta aí. Quem sabe levando todo nosso conhecimento algo mude!?

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    2. Eto seus argumentos são bons e tocam na questão do egoísmo e altruísmo. Para a sociedade, sem dúvida seria melhor agir altruisticamente.

      Ele é mais eficiente quando fala das consequências adventícias que eventualmente poderão vir a tona com ações inconsequentes.

      De fato, estes moradores poderão sofrer com a morte do filho por cólera, sem saber que poderia ser evitado tomando uma água mais limpa, somando mais tristeza ao balanço total de felicidade.

      Mas no que toca a "alienação" é algo muito mais amplo. Se ir no futebol, ir no bar com amigos, escutar funk, acreditar em um deus (que talvez não exista)fazem as pessoas mais genuinamente felizes ou não é algo muito controverso.

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